Conheça um conceito arquitetônico que prioriza os sentidos e vai além dos aspectos estéticos, para estimular também a audição, o tato e o olfato
A prática arquitetônica tem como sentido fundamental a visão. Afinal, um projeto precisa, primeiramente, agradar aos olhos. No entanto, tem se tornado mais difundida uma linha conceitual chamada de arquitetura multissensorial, que leva em consideração outros sentidos humanos, como o som, o toque e o cheiro.
Esse movimento vem de pesquisas em neurociência cognitiva e nasce da compreensão de que a mente e a percepção do ser humano têm uma natureza multissensorial. Portanto, os sentidos possuem papel importante na criação arquitetônica.
A proposta é criar uma atmosfera de percepções interconectadas, fazendo com que os aspectos interajam entre si. Por exemplo, trabalhar de forma conjunta a cor da iluminação e a sensação térmica, o som ambiente e a espacialidade. Ou seja, os estímulos aos sentidos podem atuar em sinergia para ampliar a impressão de conforto e bem-estar de um local.
Esse tipo de arquitetura também pode ajudar a incluir pessoas com deficiências ou limitações visuais, por exemplo. A maioria dos projetos arquitetônicos tende a priorizar a parte estética, de certa forma negligenciando as pessoas que não contam com esse sentido.
Outra questão, que vem com a falta de reflexão sobre os demais sentidos (principalmente audição, toque e olfato), diz respeito a problemas de saúde causados por longos períodos passados em prédios “pouco amigáveis” sensorialmente. Podemos tomar como exemplo uma obra arquitetônica que não leva em consideração a poluição sonora, que deixa de proteger seus ambientes com isolamento acústico, o que pode acabar causando transtornos a seus usuários, como estresse e insônia.
Para que um projeto arquitetônico seja realmente multissensorial, é preciso conhecer os fatores que estimulam os sentidos humanos. Pesquisas sobre percepção sensorial indicam como os sentidos atuam integrados, na captação de informações externas e acontecimentos. Por isso, parte da maneira como percebemos um ambiente ou uma atmosfera depende de como interpretamos cognitivamente esses dados.
O poder dos estímulos
Novas experiências são fatores cruciais para a vida e a evolução humana. Isso tem se mostrado ainda mais verdadeiro após a pandemia. Levando em consideração as demandas dos dias atuais, um dos aspectos mais fascinantes da arquitetura é que ela proporciona essas experiências para as pessoas. Arquitetos não apenas projetam espaços, mas são capazes de direcionar as ações dos usuários, dentro deles.
Existe uma relação direta entre as ideias de um arquiteto e a fruição de uma obra arquitetônica. Nesse sentido, são diversas as ferramentas que podem ser usadas, no processo criativo, para desenvolver projetos multissensoriais – desde a escolha dos materiais até o uso da luz, as interações entre os espaços e a presença de elementos naturais. Todos esses aspectos são complementados pelo design de interiores, que entra como o toque final para experiências verdadeiramente imersivas.
O uso inteligente da vegetação e da iluminação natural, combinado a superfícies com materiais pouco convencionais, além de texturas e cores inusitadas, que estimulem os sentidos, são algumas das possibilidades da arquitetura multissensorial. Ambientes com fragrâncias também podem trazer novas dimensões para a experiência de um espaço. O limite é a imaginação, embora seja interessante pensar sobre a harmonização desses elementos com o edifício em si.
Olhando para o futuro, a expectativa dos estudiosos da arquitetura multissensorial é que os projetos e as práticas arquitetônicas incluam uma maior compreensão dos sentidos humanos e de sua influência sobre as percepções de um ambiente. Esse tipo de entendimento pode levar à criação de casas, prédios e espaços urbanos verdadeiramente inovadores, que atendam de forma completa às necessidades sociais, cognitivas e emocionais das pessoas.