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Quotidiano – Dia 36

Oi, diário!

Mais um final de semana chegou e sobra aquele tempinho pra descansar, ver um filme, ler um livro, testar uma nova receita na cozinha… Ou simplesmente sentar em um cantinho da casa onde pega sol e ficar com as pessoas queridas, apenas curtindo a companhia delas.

Também sobra aquele tempo pra ver nossas lives, caso tenha perdido. A de ontem foi cheia de aprendizados, com o empreendedor Marcelo Cherto, sobre as lições de crises anteriores:

 

 

Hoje não vamos deixar uma dica para o final de semana, mas sim uma pequena história. Há alguns dias, o jornal O Estado de S. Paulo convidou alguns dos mais renomados escritores brasileiros para um desafio: criar contos de ficção sobre a realidade do Covid-19. Deixamos aqui a história de Pedro Bandeira, que trouxe uma perspectiva (e também uma dose de otimismo) infantil para a situação que estamos vivendo.

 

O BICHO-VÍRUS

Pedro Bandeira

(imagem via @estadao)

“Agora estou deitada no colo do papai. Ele estava lendo uma história para eu dormir, mas acabou pegando no sono antes de mim, e o livro caiu no tapete. Eu estou bem acordada e sinto no rosto o coração dele batendo com calma: pã, pã, pã… A mamãe havia se aninhado do lado, me abraçando. Também pegou no sono e eu sinto o coração dela pulsando nas minhas costas: pim, pim, pim… Será que coração de homem faz pã e de mulher faz pim? Sei lá…

E o meu? Bom, deve estar bem mais calminho por causa do bicho-vírus que está lá fora de bocão aberto, disposto a devorar quem sair de casa. Eu é que não saio!

Que bicho será esse? Vai ver é algum parente do Bicho-papão ou do Homem-do-saco. Quanta bicharada pra perseguir as criancinhas!

Mas quer saber duma coisa? Acho que esse bicho-vírus é meu amigo, porque desde que ele apareceu, minha vida melhorou muito.

Antes do Bicho-vírus, tinha vez que eu queria me queixar de ter brigado com a Glorinha, a minha melhor amiga na escola, e chegava em casa esperando até o fim da tarde quando o papai e a mamãe chegavam do trabalho pra contar que nunca mais na vida eu ia falar com a Glorinha. Só que quase sempre o papai chegava tão tarde que eu já estava na cama e, a mamãe, quando chegava, já era hora do banho, de preparar o jantar, de escovar os dentes, de ir pra cama, mas daí tinha passado tanto tempo que, quando ela me contava histórias pra eu dormir, eu estava tão cansada que dormia antes do final e nunca ficava sabendo como as histórias terminavam…

Eu adorava as vezes em que o papai chegava mais cedo e me trazia alguma revistinha ou algum livrinho e me punha no colo pra ler as histórias, porque eu ainda não sei ler nem escrever. Só o meu nome, com letra quadradinha. E era maravilhoso quando a mamãe não chegava cansada e me contava dos seus tempos de criança, de mocinha, e lembrava das histórias que sua vovó havia contado para ela, histórias de assombrações, de mulas-sem-cabeça. Que gostoso!

Mas isso só acontecia às vezes. Pelo jeito, os dois trabalham muito, porque dizem que o país está em crise e eu não sei o que é crise, vai ver é porque ninguém põe o país no colo e conta histórias de fadas e de bruxas pra ele…

Eles trabalhavam tanto, que na maioria das vezes era chato. Nessas vezes eu passava a tarde inteira com as minhas bonecas e elas ouviam com atenção todas as minhas queixas das brigas com a Glorinha e com a Ana Eduarda. Quase todas as tardes era assim: depois do almoço eu ia dar aula para as bonecas. Se alguma não prestava atenção, ia de castigo! No aniversário de cada uma eu preparava uma festa daquelas, com brigadeiro-de-mentirinha, com olho-de-sogra de mentirinha, algodão-doce… Daí telefonava pra Glorinha e juntas cantávamos Parabéns-a-você. Teve uma vez que eu fiz de conta que uma das bonecas era um noivo e preparei um casamento daqueles com a minha boneca preferida. Foi demais! Tudo era muito divertido, mas…

Mas tinha coisas que todo dia eu precisava contar pro pai e pra mãe. Às vezes, no fim de semana, dava pra gente ficar junto, mas daí já tinha passado bastante tempo e eu nem mais lembrava do que queria falar. Fim de semana era a casa da vovó, passeio com a Tia Adelaide e com o danado do primo Júnior, que cismava de puxar minha trança. E pro primo Júnior eu não contava nadinha!

Mas agora, felizmente, tudo mudou. E foi o Bicho-vírus que me salvou. Agora eu tenho o papai e a mamãe o tempo todo comigo, meu pai me conta histórias e vive falando do tempo em que ele era caçador de leões na África, depois de como ele pilotava aviões a jato para o Japão, teve até uma vez que ele estava pra ir à Lua num foguete, mas que o patrão dele não deixou porque tinha muito trabalho atrasado no escritório. E a mamãe? Procura receitas na Internet e me leva pra cozinha, me ensinando a misturar a farinha com a manteiga, bater as claras de ovos, e depois me deixa lamber a vasilha do bolo… Que delícia!

Tomara que esse Bicho-vírus nunca mais vá embora!”

 

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