O arquiteto Márcio Mazza explica como o trabalho de retrofit revitaliza imóveis em localizações privilegiadas, mantendo a sustentabilidade
Projetos sustentáveis, com energia solar e mais econômica, além de caixas de retenção de água pluvial, que podem ser usadas no jardim – esse é o padrão das casas construídas pelo arquiteto Márcio Mazza, que busca criar também ambientes modernos, com elementos coloridos e espaços integrados, que facilitem a convivência.
Para Mazza, especializado em retrofit de casas nos bairros mais nobres de São Paulo, o trabalho de reformar e modernizar imóveis de alto padrão começou por volta de 2010. “Sempre tive escritório de arquitetura e realizava projetos. Quando me formei, era meio ‘proibido’ que os arquitetos mexessem com obras. Nosso trabalho era entregar o projeto executivo muito bem feito e completo”, conta.
Mazza desafiou um pouco esse conceito quando comprou uma casa na Vila Nova Conceição, para reformar. A ideia era de que ele mesmo morasse na propriedade, quando pronta. “Era um sobrado muito bonito, foi muito bem aproveitado. Mas uma imobiliária começou a me assediar bastante, por causa de um comprador, que tinha visto minha casa em uma revista de arquitetura”, lembra. “Comecei a pensar que talvez valesse a pena fazer isso. Acabei vendendo aquela casa, comprei outras duas e comecei a aperfeiçoar esse tipo de serviço.”
Para seu negócio, o arquiteto acabou elegendo um perfil de clientes: casal relativamente jovem, com 2 ou 3 filhos, buscando uma casa moderna na região dos Jardins e Vila Nova Conceição. “Comecei a focar nesse público e percebi que o mercado não tem essa casa bacana e descolada para vender. Em geral, não existem imóveis assim prontos, é preciso encomendar com um arquiteto. Então, passei a colocar no mercado imobiliário esse tipo de habitação unifamiliar, moderna e funcional.”
Beleza e funcionalidade
Segundo Mazza, a arquitetura deve ser sedutora, mas prática e adequada às necessidades da vida contemporânea. “Não adianta ser um monumento arquitetônico, porque pessoas irão morar lá dentro. A gente encontra casas muito boas, muito bem construídas, mas com plantas obsoletas”, observa o arquiteto. “A vida muda muito, com o passar do tempo, e as relações de uma casa também. Vejo diversos imóveis com 4 quartos enormes, mas só uma suíte. Hoje, todo mundo quer seu próprio banheiro. Eu também gosto de uma cozinha colorida e aberta, que interaja com a sala.”
Mazza acredita que, na região onde atua, costumam ter mais liquidez imóveis com 4 ou 5 suítes. “A metragem varia entre 450 e 500 m², no máximo 700 m². Como trabalho em uma Z1 (zona exclusivamente residencial) e a lei permite, faço três andares, o último deles menor. Gosto de espaços comuns, para toda a família. Não me agrada aquele conceito antigo, de casa com um monte de quartos. O projeto precisa ter pulmão, porque você não fica trancado no quarto ou na sala. Eu prezo a relação, a convivência, tanto nas áreas sociais quanto íntimas. A ideia é criar espaços modernos e atualizados”, ressalta.
Em favor da sustentabilidade
O arquiteto comenta que, em São Paulo, o retrofit ainda não é uma tendência tão forte quanto poderia se tornar. “As pessoas ainda demolem muitas casas, para construir outras novas. Isso não é sustentável. Evidentemente, respeito a decisão de cada um, mas do ponto de vista econômico e de sustentabilidade, é possível aproveitar materiais e gerar menos entulho na obra. O entulho é muito ruim, porque as caçambas vão acabar enchendo as periferias da cidade.”
O aproveitamento da estrutura também possibilita a Mazza oferecer o imóvel no mercado por valores mais competitivos. “Se eu fosse fazer uma casa nova, iria gastar na demolição e na construção. Com o retrofit, tenho margem de preço melhor para vender. Por isso, minhas casas vendem muito rápido. E o comprador também não precisa se preocupar com a obra, porque já compra o imóvel pronto”, salienta.
O segredo, de acordo com o arquiteto, é compreender as mudanças nas relações, com o passar do tempo. “Outro detalhe é comprar uma casa que dê para reformar. Eu prezo muito a localização, mas muitas vezes o imóvel não é ‘reformável’. Eu gosto de interpretar o espaço. Não se trata de demolir tudo. Tento aproveitar o que foi construído: a fundação, os pilares, a laje, as vigas e, se possível, até as paredes.”
Exemplo disso é uma propriedade em autêntico estilo Art déco, dos anos 1940, em que Mazza está trabalhando atualmente. “Mantive o lado de fora, com as cores, o revestimento, o caixilho todo original, mas por dentro ela se tornou uma casa moderna, absolutamente alinhada com os dias de hoje”, comenta.
Muitas vezes, é possível até mesmo comprar a casa durante as obras, o que permite ao cliente personalizar, escolher cores e revestimentos, inclusive mudar um pouco a planta. Para o comprador, que se interessa em investir ou morar em um imóvel retrofitado, a recomendação do arquiteto é buscar profissionais reconhecidos no mercado. “Tenho um leque de opções, com cerca de 20 casas prontas, com fotos de antes e depois do retrofit, no Instagram (@mmazzaarquitetura). O cliente precisa ver projetou e construiu, o histórico das pessoas, e também quem está vendendo, se a imobiliária tem tradição e credibilidade”, destaca Mazza.
“O retrofit aproveita uma localização que estaria mal utilizada pela cidade, que não está servindo a ninguém. É quase um pecado que uma boa localização, em São Paulo, não seja de uso urbano. Muitas vezes, o proprietário do imóvel antigo e vazio está pagando IPTU, ou para de pagar porque não consegue manter. Uma casa nova, moderna, vai trazer vida e família, revitalizando o local e recuperando para a cidade o uso residencial daquele terreno. Até para os vizinhos é bom, porque valoriza a região”, conclui o arquiteto.