Em uma realidade em constante transformação, construtoras e incorporadores estão mudando suas estratégias e se digitalizando cada vez mais
“Esse movimento de mudanças, especificamente nas construtoras de alto padrão, já vinha acontecendo”, explica Vinícius Nageishi, da área de desenvolvimento imobiliário da Esquema Imóveis. “Essas empresas já têm uma comunicação muito eficiente pelo meio digital. Até mesmo o cliente comprador desse segmento em geral tem mais acesso à tecnologia e lida de maneira confortável com informações digitais. Muitas vezes, ele até prefere dessa forma, por questões de discrição e segurança.”
Para quem está capitalizado, o momento é bom para investir em imóveis, aproveitando a baixa taxa de juros. Porém, com as recomendações de isolamento social, muitos dos antigos processos de visitas a imóveis e encontros com corretores precisaram ser revistos por construtoras e imobiliárias. Entre as mudanças que se destacam no setor da construção, estão os lançamentos de imóveis sem stands físicos de vendas, novas políticas de descontos, além de tours e reuniões virtuais para substituir as visitas presenciais. Usar a criatividade também ajuda a ganhar pontos: algumas empresas estão enviando kits personalizados a seus clientes, com aperitivos e vinhos.
Digitalização e adaptação
A adaptação a essa nova realidade trouxe a necessidade de realizar transações 100% digitais – inclusive a assinatura de contratos. Na Esquema Imóveis, o departamento jurídico tem utilizado o DocuSign, uma plataforma totalmente segura, prática e confiável. “Uma série de transações que antigamente eram feitas de forma física foram digitalizadas e o cliente já aceita melhor, não tem tanta dificuldade – especialmente no que diz respeito a lançamentos”, afirma Vinícius. Até mesmo a entrega das chaves está sendo feita de maneira digital, uma novidade totalmente alinhada com os tempos que vivemos.
“Outro ponto importante a destacar é que o sistema financeiro, de forma geral, está comprometido com uma retomada e já se adaptando a esse novo cenário”, ressalta Vinícius. De acordo com o especialista, a expectativa é de que julho e agosto deste ano sejam épocas de lançamentos no alto padrão – uma mudança de estratégia no que diz respeito a anos anteriores, em que tradicionalmente não se lançava nada nesse período, devido às férias escolares. “Além disso, as empresas estão trocando ideias e se falando mais do que nunca. Hoje, um quer saber o que o outro está fazendo, principalmente com relação a lançamentos e aquisições de terrenos”, completa.
Um aspecto positivo da crise, para Vinícius, foi que as construtoras estão pensando em médio e longo prazo. Os espaços dos imóveis foram repensados, inserindo a questão do home office de forma muito mais acentuada. “Não apenas o escritório como um cantinho jogado, ou adaptado de outro cômodo, mas um espaço para trabalho mais agradável, iluminado, integrado. Esse é um ponto que vai fazer muito sucesso e que, hoje, faz todo o sentido na prática”, observa.
Desenvolvimento imobiliário
Segundo Vinícius, no setor de desenvolvimento imobiliário não houve uma queda na procura por imóveis. Trata-se de um mercado muito específico, mas que há algum tempo já havia descartado a necessidade de visitas físicas. “Basta que o potencial comprador passe de carro pelo local, para compreender a região”, comenta. “Todas as ferramentas que nós utilizamos, hoje, são digitais: planilhas de custos, planos de pagamento das áreas, especificidades, zoneamento… As ferramentas de localização e de recorte via satélite sempre foram digitais, o que não nos demandou mudanças muito significativas. Vale destacar também, especificamente no que diz respeito a São Paulo, que todo o mapa da cidade está disponível pelo GeoSampa, uma plataforma da prefeitura. É um site pioneiro e o mais completo mapa digital do país.”
Com relação à demanda dos clientes, Vinícius conta que seu foco tem sido os incorporadores que estão buscando ganhar tração no mercado. “Alguns incorporadores que já possuíam um banco de terrenos grande, formatado, com dependência do mercado financeiro, começaram a suspender a aquisição de terrenos. Isso gerou um interesse do médio incorporador, de vários segmentos diferentes. Por isso, meu volume de demanda por áreas praticamente triplicou durante a quarentena”, conta.
Conforme explica Vinícius, não somente as oportunidades permanecem estáveis para o desenvolvimento imobiliário, como há maior facilidade de negociação. “Este momento tornou muito mais fácil o movimento de negociar, de buscar parâmetros mais reais para o comprador. A gente olha tanto para o cliente comprador quanto para o vendedor, mas hoje a situação está mais favorável para o comprador. Temos também tentado mostrar para o incorporador mais reticente que os projetos vão vender, se houver uma percepção e uma mudança de visão no padrão de consumo: entender o que o cliente vai priorizar, o que podemos fazer para estimular o interesse. Nós, como intermediadores, podemos mostrar que é possível elaborar projetos que fazem sentido neste momento, mais atualizados e alinhados com o que o consumidor vai pedir lá na frente.”