Conheça um pouco mais sobre a trajetória desse arquiteto extraordinário, criador de obras como o Instituto Tomie Ohtake e o Hotel Unique

No final do ano passado, o Brasil perdeu um de seus maiores arquitetos: Ruy Ohtake, filho da artista nipo-brasileira Tomie Ohtake. Mais conhecido por projetar os hotéis Unique e Renaissance, assim como o edifício que abriga o Instituto Tomie Ohtake, o legado do arquiteto inclui cerca de 300 projetos – tanto institucionais quanto comerciais e residenciais.
Entre as características mais marcantes de suas obras estão o uso de cores fortes e ousadas, além das formas orgânicas (principalmente curvas) e superfícies espelhadas. Formado pela FAU/USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), o arquiteto desenvolveu seu estilo a partir de conceitos da Escola Paulista, com a influência dos modernistas Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha. Outras grandes inspirações para o trabalho de Ohtake foram Oscar Niemeyer e Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
Em 1961, Ruy Ohtake fundou seu próprio escritório de arquitetura, em São Paulo, onde passou a desenvolver seus projetos. Ainda nos anos 1960, ele atuou como professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Já entre os anos de 1979 e 1982, presidiu o Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo).

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, em 2019, Ohtake falou sobre suas preocupações, ao romper com o racionalismo e o brutalismo da produção arquitetônica de seu tempo: “Acho que estou no caminho de contribuir com a arquitetura contemporânea brasileira. Em todas as minhas obras, me preocupo com a liberdade criativa, a surpresa e a inovação. Acho que meu desafio é dar continuidade à arquitetura do país.”
Sua versatilidade e a capacidade de estabelecer uma linguagem própria, ao mesmo tempo em que dialogava com o modernismo, certamente foram fatores que o levaram a ganhar importância no cenário arquitetônico do país. Tanto que, ao longo de sua carreira, o arquiteto foi premiado diversas vezes. Em 1971, por suas obras urbanas, recebeu o Prêmio Carlos Millan, pelo Instituto de Arquitetos do Brasil. O mesmo órgão o homenageou também em 2016, por sua contribuição à nossa arquitetura. Recebeu ainda, em 2007, o Colar de Ouro, maior prêmio brasileiro de arquitetura, pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB). Além disso, foi Professor Emérito da Faculdade de Arquitetura de Santos e Professor Honoris Causa da Universidade Braz Cubas.

Um aspecto importante do trabalho de Ohtake foi sua busca por criar uma arquitetura voltada para a justiça social e para o equilíbrio da urbanização com o meio ambiente. Nesse sentido, vale ressaltar seu projeto dos “redondinhos”, um conjunto habitacional em Heliópolis, onde ele também atuou na concepção e concretização do Polo Educativo e Cultural de Heliópolis, que inclui uma biblioteca pública, um centro cultural com cinema e espaço para feira de artesanato, além de uma escola técnica.

Outros projetos emblemáticos do arquiteto são o Parque Ecológico do Tietê e o Parque de Indaiatuba, a Residência Tomie Ohtake e a Residência Valinhos, o Expresso Tiradentes, o Edifício Maison de Mouette, a readequação do Estádio Cícero Pompeu de Toledo (Estádio do Morumbi), a Central da Telefônica em Campos do Jordão, o prédio Royal Tulip Alvorada e o Brasília Shopping na capital federal, o Aquário do Pantanal em Campo Grande, o Centro de Formação de Professores EducaMais Jacareí e o edifício da Embaixada Brasileira em Tóquio, no Japão.





Além das obras arquitetônicas, Ohtake também assinou mobiliários. Durante muitos anos, paralelamente à sua atividade como arquiteto, ele criou mobílias especificamente para as casas que projetava, utilizando materiais como o concreto e o aço no design de mesas, estantes e sofás, sempre explorando formas circulares e incomuns.
