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O modernismo de Zalszupin

Jorge Zalszupin, ícone da arquitetura e do design brasileiro, é também referência para as próximas gerações modernistas

 

Zalszupin, nascido na Polônia e naturalizado brasileiro, decidiu muito cedo se tornar arquiteto, após se encantar com um livro de letras douradas, de Le Corbusier, um dos mais importantes arquitetos do século XX.

Passou a maior parte da segunda guerra mundial estudando e se aperfeiçoando no mundo da arquitetura, mas foi no Brasil que enxergou um caminho livre para desenvolver sua arquitetura poética e singular.

Pouco tempo depois de sua chegada ao Brasil, Zalszupin iniciou seus trabalhos com o também polonês, Lucjan Korngold, em São Paulo. Porém, apesar de ter toda a autonomia e de fazer projetos completos, ele não podia assiná-los, pois naquela época ainda não tinha sido naturalizado brasileiro.

 

Zalszupin: O arquiteto, Zalszupin: O designer

Considerado um homem “à frente do seu tempo”, Zalszupin teve uma ideia de como fazer com que seus conceitos arrojados fossem bem aceitas por seus clientes. Construiu sua própria casa, que hoje abriga um museu em sua homenagem.

Localizada a poucos passos da Alameda Gabriel Monteiro da Silva, nos Jardins, a casa foi feita em apenas nove meses, com a ajuda de um servente e de Pepe, um pedreiro espanhol que entendia tudo o que era pedido sem precisar de desenho (!). 

 

Living da casa de Jorge Zalszupin, em São Paulo (Fonte: Hardecor)

 

Destaque das obras de arte, presente em quase todas as paredes (Fonte: Hardecor)

 

Fachada da casa em muxarabi (Fonte: Hardecor)

 

Além do projeto da sua própria casa, Jorge também idealizou e fez todo o mobiliário que se adequasse ao imóvel, o que foi um processo natural para o arquiteto.

Após a construção de sua casa, Zalszupin ficou mais confiante.

A matéria prima que se encontrava ali (a madeira, mais precisamente), e a constante busca pelo novo, naquele pós-guerra, com mentes mais abertas para o desconhecido, eram as condições ideais para que o público aceitasse suas criações. 

O que realmente aconteceu!

A partir disso, seus caminhos se abriram e o “mestre” (como foi apelidado pelos especialistas), idealizou diversas casas para a classe alta paulistana, que infelizmente foram demolidas para dar lugar a espigões. Ele também construiu diversos prédios na região da Paulista, tais como Sumitomo 2 e Mercantil, além da fachada original do Shopping Ibirapuera e o projeto do Shopping Morumbi.

O Edifício Helenita, ícone da arquitetura do bairro de Higienópolis e um dos condomínios mais cobiçados do mercado imobiliário, também leva a sua assinatura, onde ele e Henrique Alexander utilizaram o mármore para construir uma imagem imponente logo na entrada, além da implementação de um espelho d’água com carpas, que traz ainda mais elegância ao prédio, que possui apartamentos igualmente imponentes.

 

Imóvel no Edifício Helenita, disponível no site da Esquema Imóveis

 

Para cada projeto residencial que Zalszupin idealizava, ele entregava também o mobiliário, pois naquele tempo, era mais difícil encontrar designers modernistas. Foi aí que descobriu a sua paixão (também) pelo design e, em pouco tempo, fundou a icônica marca L’Atelier.

Sua marca ficou tão famosa que se espalhou por quase todo o país e seus showrooms eram referência de modernidade.

Uma das mais icônicas peças de sua autoria é a poltrona Dinamarquesa, uma combinação de formas orgânicas e linhas simples, completamente inspirada no design moderno escandinavo. Ela foi fabricada em 1959, utilizando jacarandá e almofadas, com pernas de pau. “O desenho dos braços e patas dianteiras lembra as colunas feitas por Niemeyer para o Palácio da Alvorada”, afirmou Zalszupin, em uma entrevista.

 

A icônica Poltrona Dinamarquesa, toda revestida em Píton (Fonte: Casa Vogue)

 

Suas peças eram tão irreverentes que até mesmo no judiciário Zalszupin marcou presença. As famosas poltronas de couro amarelo, onde se sentam os juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) são de sua autoria. Elas ficaram (ainda mais) famosas após aparecerem na televisão e nas capas dos jornais durante o julgamento do mensalão. Pouco depois, a versão da mesma poltrona, só que agora na cor preta, foi a cadeira oficial do prefeito da cidade de São Paulo.

Em uma entrevista para a Serafina, caderno exclusivo da Folha de São Paulo, Zalszupin afirmou que passou anos tentando fazer outro móvel que fosse tão importante como aquela cadeira. “Ela abriu tantas portas na minha carreira. Tentei de diversas formas projetar outras como ela, mas nunca saía um resultado que me agradasse.”

 

 

Zalszupin morreu em 17 de agosto de 2020, aos 98 anos, deixando um verdadeiro legado de inspiração aos muitos designers e arquitetos da atualidade.

Foram inúmeras as exposições feitas para o público e entusiastas do modernismo, para que pudessem vislumbrar tantas das suas obras, incluindo as mostras exibidas no Museu da Casa Brasileira e na Casa Zalszupin.

Para quem quiser saber mais sobre as criações e a vida do designer, indicamos os livros Jorge Zalszupin: design moderno no Brasil e sua autobiografia De * pra lua, ambos da Editora Olhares.

Quer saber mais sobre a história dos maiores arquitetos da atualidade? Não deixe de conferir no nosso blog a série Arquitetos que Amamos.

 

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