Momentos impactantes da história, como a pandemia do coronavírus, podem fazer com que as pessoas mudem sua forma de agir, trabalhar, se divertir e ver o mundo
Muito se tem afirmado que, após a pandemia do Covid-19, o mundo irá mudar bastante. Mas será que esse tipo de acontecimento realmente causará impactos permanentes no comportamento humano? A sociedade influencia nossas vidas de inúmeras formas, que são diferentes para cada cultura e região geográfica. Afinal, somos seres sociais e, por isso, fatores externos acabam sendo importantes para moldar quem nos tornamos.
Alguns aspectos em que a sociedade pode influenciar nosso comportamento dizem respeito a expectativas profissionais, com relação a sucesso, status, estabilidade financeira, papéis de gênero, etc. A estrutura social também nos força a evitar cometer atos considerados moralmente errados, como crimes. Basicamente, a sociedade em que vivemos determina a maneira como agimos.
Por isso, eventos de grande impacto no mundo certamente refletem em nossas vidas. Por exemplo, com a necessidade de nos recolhermos em isolamento social, pequenas coisas (porém, significativas) mudaram em nossa forma de trabalhar e de nos relacionarmos uns com os outros. Até mesmo hábitos do dia a dia foram impactados: nossa rotina de exercícios, de alimentação e de higiene pessoal.
Passamos também a observar o lugar onde moramos: a integração dos espaços, o conforto do home office, as áreas verdes, o convívio com a família. Imóveis de campo passaram a ser mais procurados, diante da necessidade de nos isolarmos em casa. Também começamos a questionar o que é realmente essencial em nossas vidas.
Linha do tempo comportamental
Ao longo da história da humanidade, foram muitos os eventos de impacto que provocaram mudanças de comportamento. Na Pré-História, a descoberta de como utilizar o fogo fez com que os hábitos alimentares do ser humano (e suas capacidades cognitivas) se desenvolvessem de maneira extraordinária. O mesmo pode ser dito no que diz respeito à Revolução Industrial, entre os séculos XVIII e XIX, em que o trabalho artesanal foi substituído pelas máquinas.
Em nossa época, a Revolução Digital também trouxe uma série de mudanças comportamentais: as profissões mudaram, as formas de entretenimento se modernizaram, a comunicação se expandiu e a internet transformou o mundo uma verdadeira “aldeia global”. Cada um desses avanços obrigou o ser humano a evoluir e se adaptar, modificando suas formas de agir e de pensar.
Mas não foram somente os acontecimentos positivos que causaram impactos em nossa evolução. Grandes catástrofes naturais, guerras, pandemias, crises… tudo isso também provocou (como ainda tem provocado) mudanças no nosso comportamento e modo de vida. Neste período de isolamento social, em que estamos enfrentando forças invisíveis, porém assustadoras, é impossível não traçar um paralelo com períodos da história em que outras pessoas foram forçadas a se isolar, tentando se proteger de ameaças externas.
“Frequentemente, um entendimento dos outros parte de nossas próprias experiências. Se você tem sua liberdade de movimento extremamente restrita, como pode estar neste momento, isso fará com que pense em pessoas que foram forçadas a viver em circunstâncias similares”, explica Maatje Mostart, gerente de comunicações do museu Casa de Anne Frank, em Amsterdã, na Holanda, em entrevista exclusiva à Esquema Imóveis. “Claro que isso não significa que o cenário e o contexto daqueles dias [Segunda Guerra Mundial] podem ser comparados à situação atual. Anne Frank precisou se esconder pela única razão de ser judia; sua perseguição, sua vida no esconderijo e sua eventual morte foram o resultado de ações humanas deliberadas. Ainda assim, você irá ler o diário de Anne Frank hoje com olhos diferentes e pode ser que a situação que vivemos lhe permita um melhor entendimento de certas partes dele.”
Novos tempos (ou tudo igual?)
Para a humanidade, a mudança (ou evolução) geralmente acontece para garantir a sobrevivência. Não do mais forte, mas, conforme afirmou a teoria do naturalista britânico Charles Darwin, daquele que melhor se adapta ao meio ambiente em constante transformação.
Mesmo com a explosão cultural e tecnológica pela qual passamos no último século, nossa evolução genética se deu de forma muito mais lenta e nossos cérebros continuam carregando informações comportamentais de épocas primitivas. Ou seja, ainda temos uma tendência a pensar de maneira limitada e nos preocuparmos somente com nossa “tribo” – um grupo reduzido de pessoas com as quais convivemos e nos importamos.
Por isso, o maior desafio comportamental da sociedade, hoje em dia, é a cooperação. O medo, atualmente, não é de predadores, mas de vírus e de crises econômicas. Aqueles que defendem a possibilidade de mudanças significativas na sociedade, pós-pandemia, veem um cenário em passaremos a enfatizar mais a felicidade do que o faturamento. Com mais criatividade e empatia, o ser humano deve buscar mais qualidade de vida, saúde, movimento, clareza, colaboração. Talvez seja um momento de desacelerar e partir em busca do autoconhecimento.
Por outro lado, há aqueles que acreditam em mudanças mais sutis. Afinal, quantas das transformações que estamos vivenciando neste momento serão, de fato, permanentes? Para que não terminemos a quarentena exaustos e frustrados, as recomendações dos cientistas comportamentais são de que tentemos observar o mundo de maneira equilibrada, equacionando sono, alimentação, trabalho e tomadas de decisões. A mudança parte de dentro de cada um.
Nas palavras de Mahatma Gandhi: “Se nós pudéssemos mudar a nós mesmos, as tendências do mundo também iriam mudar. Quando uma pessoa muda sua própria natureza, a atitude do mundo perante a ela também muda… Nós não podemos esperar para ver o que os outros irão fazer.” Ou seja, por meio de pequenas transformações pessoais, podemos ser a mudança que queremos ver lá fora.