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Uma paixão com cores, aromas e sabores

O advogado Murilo Azevedo transformou seu amor pelo vinho em um negócio prazeroso com o Degusta Club

A nossa parceira, a Revista Fazenda da Grama, entrevistou Murilo Azevedo, advogado em Jundiaí, que era um cervejeiro convicto até descobrir uma paixão ainda maior: o vinho. Desde então, realizou inúmeras viagens, cursos e degustações, tornando-se um especialista no assunto. Advogado em Jundiaí, criou o Degusta Club, um clube exclusivo que, além de selecionar com muito cuidado os rótulos a serem entregues mensalmente aos associados, também escolhe com carinho seus novos integrantes. Com o tempo, Murilo Azevedo passou a dividir-se entre o seu escritório de advocacia e o antigo hobby, que virou negócio. Estuda incansavelmente o tema e realiza minuciosas degustações técnicas antes de escolher as garrafas a serem enviadas aos sócios, que chegam com fichas técnicas informando tudo sobre o produto, além de harmonizações possíveis, como e quando servir e dicas para o momento da degustação. O clube também oferece o Confraria Degusta, com reuniões mensais com alguns dos melhores produtores do mundo, Wine Dinners, cursos temáticos, e descontos para compra de rótulos selecionados. A seguir, Murilo Azevedo fala de seu contagiante amor pela bebida e dá dicas aos neófitos.

Como surgiu a sua paixão pelo vinho?

Meu pai sempre trabalhou no ramo de bebidas alcoólicas, mas na época eu era muito jovem e não participava muito. Mas acho que devia estar no sangue, porque o vinho já estava reservado na minha trajetória. Eu era um cervejeiro de plantão e a primeira pessoa a me apresentar vinhos finos e de qualidade foi o Sérgio Del Porto (associado da Fazenda da Grama e sogro do meu irmão), um gentleman que me convidava a experimentar vinhos em recepções em sua casa. Ali já passei a encarar o vinho de outra forma, percebendo diferentes cores, aromas e sabores, e a desconfiar que se tratava de uma bebida, no mínimo, diferente. Depois, em 2004, fiz uma viagem a Santiago, no Chile, para visitar minha cunhada. Fui recebido com churrasco. Pois bem. Cadê a cerveja? Nada! Tinha um monte de vinho tinto na mesa. OK, sou visita, vamos lá. Carne saindo, gole de vinho, outro corte de carne, outro tipo de vinho e dali em diante eu definitivamente comecei a prestar atenção nas diferentes garrafas, rótulos, aromas, sabores, espécies de uvas etc. E para a minha sorte, lá se encontrava um verdadeiro expert e apaixonado por vinhos, que, com paciência e sabedoria, me deu uma verdadeira aula sobre aquilo que degustávamos. Naquela noite, o bichinho do vinho me picou, em definitivo. Já no dia seguinte fui a uma loja de vinhos, comprei algumas garrafas para trazer na mala, manuais, livros, passei a prestar a atenção nas características e diferenças dos vinhos e daí virou vício, paixão, amor eterno, estudo, muito estudo, hobby, negócios, enfim, desde então ingressei de cabeça no mundo do vinho, um fantástico caminho sem volta.

Quais são os principais diferenciais do Degusta Club?

O Degusta é diferente daqueles clubes que estamos acostumados a ver em propagandas. É fechado para um número limitado de sócios. Só ingressam as pessoas indicadas pelos sócios, conhecidos ou amigos que realmente se interessam pelo mundo da enogastronomia, para que eu consiga dar uma atenção e carinho devidos. Os sócios pagam uma mensalidade pela assinatura e recebem todo mês em casa três diferentes garrafas selecionadas por mim. Envio também uma ficha técnica explicando tudo sobre o vinho, história do produtor, regiões, uvas, características, harmonizações, como e quando servir o vinho, enfim, dicas para o momento da degustação, seja ela formal ou informal. Além disso, o grande diferencial é que os sócios participarão da Confraria Degusta, em reuniões mensais com a presença de produtores do mundo inteiro, mais Wine Dinners, cursos temáticos e descontos na compra de outras garrafas que quiserem adquirir. É um verdadeiro clube mesmo, mas a mensalidade é revertida em vinhos com preços abaixo dos praticados pelos importadores e demais benefícios.

Como concilia o seu trabalho como advogado com a gestão do clube de vinhos?

Pois é, sou advogado há 20 anos e faço parte de uma Sociedade de Advogados em Jundiaí. No início eu trabalhava com o vinho só nas horas vagas mesmo. Muitas vezes trabalhava à noite e aos finais de semana. No entanto, o vinho acabou cada vez mais tomando conta da agenda e hoje consigo dividir bem o meu tempo entre a gravata e o saca-rolhas. O lado bom é que meu sócio entende, me confere segurança e me dá o maior apoio. Mas confesso que muitas vezes não tem como não misturar os assuntos, pois meus clientes da advocacia também são sócios do Degusta e vira e mexe os assuntos se entrelaçam nas reuniões.

Como faz a seleção dos vinhos a serem enviados mensalmente aos sócios?

Primeiro eu seleciono os importadores. Procuro sempre os melhores do mercado privê, os que trabalham com rótulos que não entram em supermercados e que tenham um portfólio com produtores renomados. Antes de efetuar qualquer pedido compro uma garrafa de cada vinho e eu mesmo faço a degustação técnica, a fim de avaliar se aquele rótulo se encaixa no perfil do clube, se vai agradar aos sócios, se tem um bom custo versus qualidade, se apresenta algum defeito técnico… Analiso a apresentação, rótulos, países produtores, composição das uvas, estilos de vinificação, tudo visando levar à casa do sócio do clube um presente, não uma simples garrafa de vinho.

Quais são os destaques do seu catálogo de vinhos atual?

Difícil apontar um destaque, já que todos os vinhos passam por uma triagem muito detalhada. Mas gosto muito quando consigo apresentar vinhos distintos, tais como uma microrregião com alguma uva em extinção, produções limitadas, rótulos que não virão mais ao Brasil, safras que foram consideradas históricas, daí o vinho passa a ser muito mais do que uma bebida, mas uma verdadeira joia.

O que indicaria a um iniciante que queira aprender a degustar e conhecer vinhos?

A melhor dica é beber prestando atenção. Não beber o vinho como qualquer bebida. Antes de servir, analise o rótulo, ali tem muita informação, como o nome do produtor, país, região, sub-região, espécie das uvas, se é elaborado com uma uva só ou com mescla, graduação alcoólica etc. Ao servir, procure uma taça adequada, evite taças coloridas para verificar os tons do vinho, seja ele branco, rosé ou tinto. Tente, pelo menos tente, identificar algum aroma no nariz antes de ingeri-lo e, ao final, com o vinho na boca, verifique também sabores e sensações, por exemplo, se amarrou a boca, se salivou e, o mais importante, forme opinião. Se gostou ou não e por quê.

Em um dos posts do seu blog, você diz que uma das maiores instituições do país, o queijo e vinhos, é um perigo caso o organizador não tome alguns cuidados. Quais seus principais conselhos para quem não quer cometer erros em harmonizações?

É verdade, o queijo e vinho é um casamento fadado ao insucesso. O que poucas pessoas sabem é que a melhor harmonização com a grande maioria dos queijos são os vinhos brancos. Isso mesmo! O queijo se comporta de forma diferente em relação aos outros alimentos, uma vez que tem uma textura distinta, geralmente é gorduroso e salgado e, dessa forma, cria uma capa na língua e nas papilas gustativas, judiando um pouco do paladar. Assim, diante da diversidade de queijos e vinhos encontrados no mercado, se não soubermos harmonizá-los de uma forma adequada, não fica legal. Por exemplo, queijo de cabra com um Sauvignon Blanc fica perfeito. Queijo parmesão aguenta um tinto, mas com pouca acidez, tipo um Amarone. Já os azuis, casam bem com vinho do Porto. E por aí vai.

Quais outros conselhos daria a quem tem a difícil − e prazerosa − missão de escolher vinhos para ocasiões sociais ou mesmo em família?

Sabe aqueles adesivos que encontrávamos nos carros “Procure sempre um advogado” (risos)?  Para quem tem dificuldade em escolher vinhos, seja para uma festa ou recepção, ou só para o dia a dia mesmo, eu diria: “Procure sempre um sommelier”. Um profissional da área indicará vinhos que atendem o seu gosto e o seu bolso. Harmonizará com o seu cardápio, analisará vinhos de welcome drink, de aperitivos, de jantar, de sobremesa etc. Isso é muito importante, pois a recepção fica mais divertida e muitas vezes os vinhos chegam até a roubar a cena de um jantar. É muito gratificante quando isso acontece.

O vinho faz bem para a saúde? Quais os seus benefícios?

Sim, faz muito bem para a saúde! Vamos elencar alguns desses benefícios: os taninos que encontramos nos tintos melhoram o colesterol e o resveratrol, que é um vaso dilatador muito poderoso, previne acidentes vasculares cerebrais e infarto do miocárdio. Está ligado à menor incidência de doenças virais, reduz em 50% as chances de desenvolver qualquer tipo de catarata, corta pela metade o risco de doença do fígado gorduroso, ajuda no tratamento e prevenção do mal de Alzheimer e reduz doenças na gengiva. O vinho tinto libera óxido nítrico, substância que ajuda a relaxar a parede do estômago, otimizando assim a digestão, além de muitos outros. Mas, gente, eu não sou médico! Todos os dados são resultados de pesquisas. Existe até um Provérbio Russo: “Beba uma taça de vinho todos os dias no jantar e você roubará um rublo de seu médico”.

Prefere os vinhos do Novo Mundo ou do Velho? Por quê?

Essa é uma das perguntas que eu mais respondo e é muito pertinente. Vejamos: todos que começam a beber vinho, normalmente preferem vinhos do novo mundo, isto é, chilenos, argentinos, americanos, sul-africanos, uruguaios e australianos, entre outros, uma vez que são mais estruturados, escuros, austeros e amadeirados, além de apresentar aromas mais “comerciais”, como chocolate, baunilha, especiarias doces e frutas negras. São vinhos que amarram mais a boca e não pedem uma comida perfeita para sua harmonização. Mas, com o tempo, a tendência é migrar para o velho mundo, basicamente, França, Itália, Espanha e Portugal, mais especificamente os franceses e os italianos, que são vinhos mais elegantes, equilibrados, com aromas mais rústicos como frutas de bosque, ervas, couro, chá etc. Também contam com maior acidez, o que os torna mais gastronômicos. Sugerem pratos para um casamento ideal, além de serem mais longevos. Então, respondendo à pergunta, hoje, sim, prefiro vinhos do Velho Mundo. Mas, claro, ainda bebo e aprecio vinhos do Novo Mundo também.

Qual o seu objeto de desejo em termos de vinho? Já realizou algum sonho desse tipo na sua trajetória como sommelier?

Já realizei vários sonhos no mundo do vinho. Passei por experiências incríveis que jamais imaginaria. Visitei mais de 100 vinícolas pelo mundo, fui recebido nos principais Chateaux “Grand Cru Classés” de Bordeaux, na França, fiz degustações de barricas no Margaux, vertical no Latour, visitei o museu privado do Mouton Rotschild, participei de degustação privada na sala de troféus do jogador de golfe Ernie Els na África do Sul, fui recebido com honrarias na Herdade do Esporão no Alentejo, virei amigo pessoal dos Douro boys Tomás Roquete, da Quinta do Crasto, e do Van Zeller, da Vale de Dona Maria, do Fernando Seixas, da Taylors, e passei uma tarde avaliando vinhos das Barricas do Luis Pato, na Bairrada, esses últimos em Portugal. Participei de degustação na sala principal da toda-poderosa Vega Sicília em Ribera Del Duero, visitei os vinhedos da Pesquera, sentado no banco de passageiro do carro guiado pela lenda Alejandro Fernandez (considerado o rei da uva Tempranillo), fiz degustações nas adegas subterrâneas da Viña Lopez de Heredia – Tondônia, em Rioja, degustei Amarones raros com o Francesco Quintarelli, no Vêneto, e passei uma tarde inteira degustando Brunellos com a lenda Franco Biondi Santi (o patriarca do Brunello di Montalcino). Esse foi um dos dias mais emocionantes da minha vida, sem falar de degustações técnicas com Nicolás Catena − da Catena Zapata −, na Argentina; na Almaviva, Chile; na Bodegas Carrau, no Uruguai; Lindemans no Hunter Valley, Austrália, além de diversos outros do Brasil, Hungria, República Tcheca, e outras regiões não citadas como Vale do Loire, Champagne, Toscana, Castilla Y Leon, Penedés, Priorato e Setúbal. Mas respondendo agora à primeira parte da pergunta, sim, não um objeto de desejo, porque tive a oportunidade de beber os grandes rótulos do mundo do vinho, mas não conheço uma região, considerada a Terra Santa, a Borgonha, na França, onde pretendo visitar os vinhedos do famoso Romanée Conti.

Como você avalia a produção brasileira atual?

O forte no Brasil ainda é o vinho espumante. Eu diria que o vinho espumante, no Brasil, não é a “prata”, mas sim, “o ouro da casa”, pois sem dúvida é o que temos de melhor. Hoje o espumante brasileiro atingiu um nível de qualidade respeitado no Brasil e no exterior. Mas a produção de vinhos brasileiros brancos e tintos melhorou muito. Acredito que estamos no caminho certo. Existem produtores investindo muito em uvas de qualidade, vinificação moderna, barricas novas de carvalho. Infelizmente o que desanima nos vinhos brasileiros é o imposto embutido, que faz com que os vinhos mais elaborados tornem-se cada vez mais caros, e com isso o público acaba optando por rótulos até de menor qualidade, mas importados. É uma luta. Mas, enfim, os brasileiros estão cada vez melhores e ganhando respeito dos críticos e público em geral.

Gostaria de deixar uma mensagem sobre o vinho?

Bom, o vinho é muito mais do que uma simples bebida alcoólica, e muito mais do que um mosto fermentado de uvas. É alimento, cultura, história, geografia, faz bem para o coração, para os olhos, fígado e previne uma série de doenças. Mas o mais importante é que faz um bem danado para o espírito, para a alma, para a vida. Proporciona muitos momentos felizes e nos faz pessoas melhores.

 

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