A arte renascentista, que surgiu em um dos períodos mais conturbados da história humana, nos ensina a ver as dificuldades como fontes de inspiração
“Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende”. A frase do artista e inventor Leonardo da Vinci nunca pareceu tão atual. Em um mundo no qual precisamos rever nossos conceitos todos os dias e pensar em soluções criativas para lidar com situações novas, o saldo positivo certamente é o aprendizado.
A arte sempre foi reflexo do contexto histórico em que está inserida. O chamado Renascimento, período entre os séculos XIV e XVII, considerado um momento de transição da Idade Média para a Idade Moderna, é um exemplo perfeito de como, depois de uma grande crise na Europa, sucedeu-se uma completa reviravolta no pensamento ocidental.
Para contextualizar, quando o movimento renascentista surgiu na Itália, muitos países europeus acabavam de sair do que se tornou conhecida como a “idade das trevas”, uma fase marcada pelo obscurantismo e misticismo, heranças de um sistema feudal em que eram comuns os conflitos armados, a fome e epidemias como a Peste Negra.
Após as trevas, no entanto, veio a luz: principalmente a partir do século XV, surgiram na Europa grandes artistas e pensadores, que se destacaram nas artes, ciências, literatura, música, arquitetura, política e filosofia, contribuindo para provocar profundas mudanças culturais e sociais. O que se buscava era romper com o passado e resgatar o humanismo, ou seja, a ideia de que “o homem era a medida de todas as coisas” (conforme afirmou o filósofo grego Protágoras). Foi a época das grandes navegações, de inovadoras teorias sobre o universo e da descoberta da prensa de tipos móveis, que permitiu a reprodução de materiais gráficos em grande escala.
Perspectiva e realismo
Nas artes, os primeiros traços do Renascimento surgiram na Itália, com as pinturas de Giotto di Bondone (na mesma época em que Dante Alighieri escrevia sua obra-prima, A Divina Comédia). Além de uma busca por resgatar os estilos clássicos da Grécia e Roma antiga, floresceram nessa fase técnicas como a da perspectiva linear, do trabalho com a profundidade e os contrastes entre luz e sombra, para dar mais naturalidade e realismo às pinturas, além do estudo da anatomia e das emoções humanas.
Embora o Renascimento tenha sido um movimento que abrangeu as mais diversas áreas do conhecimento, entre seus expoentes estão dois artistas plásticos italianos que se destacaram pela versatilidade: Leonardo da Vinci e Michelangelo, que inclusive inspiraram o termo “Renaissance man” (ou seja, “homem renascentista”), usado até hoje para definir pessoas que desenvolvem seus talentos e habilidades da forma mais ampla possível. A busca pela perfeição e pelo aperfeiçoamento constante são características dessa época.
A proposta por trás dos pensadores renascentistas, como um todo, era resgatar os ideais clássicos da antiguidade, que haviam se perdido durante a Idade Média, mas de certa forma “repaginando” esses conceitos e trazendo novas ideias para a expressão do pensamento e da criatividade humanas. Nesse contexto, o apoio financeiro dos patronos das artes foi de extrema importância para que as obras ganhassem visibilidade. Com certeza, o “apadrinhamento” de artistas pela afluente família Medici – e também pela Igreja Católica – foi um dos fatores que impulsionaram as artes plásticas nesse período.
Até os dias de hoje, o Renascimento é visto como uma época única e empolgante da história, principalmente no campo das artes. A revolução cultural que ocorreu nesse período deu origem a grandes avanços que influenciaram o futuro de toda a humanidade, graças a uma mudança drástica na maneira como as pessoas viam e compreendiam a realidade. Talvez o maior ensinamento, para a atualidade, seja de que mesmo em meio ao que nos parece caos e confusão, podem nascer ideias, esperanças, questionamentos, soluções e novas configurações de mundo.
Grandes nomes do Renascimento
Entre os artistas reconhecidos como gênios renascentistas estão pintores e escultores responsáveis por algumas das obras mais icônicas da cultura ocidental:
Leonardo da Vinci (1452–1519): Pintor, arquiteto e inventor italiano, autor de obras como a Mona Lisa e A Última Ceia.
Michelangelo (1475–1564): Escultor e pintor italiano, autor da famosa escultura de Davi e pintor da Capela Sistina em Roma.
Rafael (1483–1520): Pintor italiano, aprendiz de Leonardo da Vinci e Michelangelo. É conhecido por suas pinturas da Madonna e por A Escola de Atenas.
Donatello (1386–1466): Escultor italiano, conhecido por esculturas como São Jorge e Davi, uma obra comissionada pela família Medici.
Sandro Botticelli (1445–1510): Pintor italiano, renomado por obras como O Nascimento de Vênus e Primavera.
Giotto (1266-1337): Pintor e arquiteto italiano, cujas pinturas realistas das emoções humanas influenciaram muitas gerações de artistas, famoso por seus afrescos na Capela de Scrovegni, em Pádua.
Ticiano (1488–1576): Pintor italiano, celebrado por seus retratos de papas, além de pinturas religiosas como Vênus e Adônis e Metamorfoses.
Pieter Bruegel, o Velho (1525–1569): Pintor holandês que inspirou artistas do Renascimento a retratarem temas do dia a dia, como em sua obra Caçadores na Neve.