Uma das bebidas mais apreciadas no mundo e parte importante da história do nosso país, o café já se tornou item indispensável na mesa dos brasileiros
Não importa a estação do ano, não há nada melhor do que um bom café para começar o dia. Unanimidade nacional, a bebida não é apenas consumida e apreciada em nosso país, mas em todo o mundo. Com suas diversas variedades de grãos e formas de preparo, não é preciso ser um barista para aprender a fazer um delicioso cafezinho. Então que tal conhecer um pouco mais sobre a história e algumas curiosidades a respeito desse grão tão saboroso e especial?
De volta às origens
As histórias sobre as origens do café são as mais diversas, mas muitos acreditam que a bebida foi “inventada” na África entre os séculos VI e X, nas terras altas da Etiópia: Cafa (de onde supostamente viria o nome “café”) e Enária. A planta era conhecida por suas propriedades estimulantes e suas folhas eram usadas para alimentar rebanhos durante longas viagens.
Segundo uma lenda, um pastor etíope percebeu que o comportamento de suas ovelhas se tornava alegre e bem disposto, depois que elas ingeriam as folhas do cafeeiro. Ele então levou um fruto da planta até um monge, que resolveu experimentar uma infusão de café, confirmando que a bebida o fazia permanecer mais tempo acordado durante suas meditações.
Inicialmente consumidos crus, fervidos ou fermentados, os frutos do café passaram a ser cultivados em monastérios islâmicos da Península Arábica, onde a infusão recebeu o nome de kahwah ou cahue. Uma das supostas origens desse nome está na palavra árabe kaweh, que significa “força”. Posteriormente, a planta chegou até Constantinopla (na atual Turquia), onde foi fundada a primeira cafeteria do mundo. Mas foi apenas no século XIV que o café, na época conhecido como “vinho da Arábia”, chegou ao continente europeu. Não à toa, há também os que acreditem que o nome da bebida venha da palavra árabe qahwa, que significa “vinho”.
A popularização do café torrado e moído, da maneira como estamos acostumados nos dias de hoje, deu-se apenas no século XVI, quando ele se tornou uma bebida muito consumida em Veneza, na Itália. Foi nessa época também que se disseminou o hábito de coar o café, acrescentando açúcar e leite à bebida. Já os holandeses foram os primeiros europeus a cultivarem a planta, no Jardim Botânico de Amsterdã. Eles também transformaram suas colônias nas Índias Orientais em grandes plantações de café, sendo os responsáveis – junto com os portugueses e franceses – por disseminar a bebida pelas Américas.
Aos poucos, o gosto pelo café foi se espalhando pelo mundo, chegando ao Brasil em 1727. Nosso país acabaria por se tornar o maior produtor mundial dos grãos… e também o maior consumidor. Por muito tempo, o chamado “ouro negro” foi uma das bases da economia brasileira, representando uma grande fonte de riqueza e principal produto nacional para exportação.
Conforme o consumo de café aumentava pelo mundo e se ocidentalizava, foram também realizados estudos científicos sobre as propriedades da planta. Uma das primeiras publicações a esse respeito foi uma pesquisa do botânico italiano Prospero Alpino, analisando os aspectos estimulantes da excêntrica bebida, tão apreciada pelos árabes.
A revolução industrial e o aumento da demanda por processos mais ágeis de produção levaram à invenção dos primeiros protótipos de máquinas de café. Em 1901, o italiano Luigi Bezzera aperfeiçoou uma criação de Angelo Moriondo e inventou uma máquina que preparava a bebida em poucos segundos e a despejava diretamente em uma xícara, inclusive com porta-filtro e compartimento para os grãos – uma invenção que, alguns séculos depois e passando por várias evoluções, continua muito presente em nossas vidas.
Do Brasil para o mundo
O Ciclo do Café, entre os anos de 1800 e 1930, ainda na época do Brasil imperial, fez com que as fazendas cafeeiras se expandissem por todo o território nacional. As condições climáticas e o solo do país se mostraram muito favoráveis à produção dos grãos. Das primeiras plantações no Norte e Nordeste, o café foi levado para o Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Paraná – onde a terra e o clima se mostraram perfeitos para o sucesso do cultivo.
Com a abolição da escravatura, o café foi um dos principais motivos da imigração de colonos italianos, portugueses, espanhóis, russos, austríacos, romenos, poloneses, alemães e japoneses ao país, para atuarem como mão de obra nas lavouras. A construção de estradas de ferro, nessa época, também permitiu o transporte até os portos, de onde a produção era exportada para outros países. Em 1845, o Brasil já produzia 45% do café mundial.
Até os anos 1920, o Brasil dominou a produção mundial de café. Mas nossa indústria estava defasada no que diz respeito aos avanços tecnológicos e também dependia muito do consumo dos Estados Unidos. Quando a bolsa de valores de Nova York entrou em colapso, em 1929, houve um impacto muito grande na exportação do café brasileiro, causando uma queda nos preços. Fazendeiros brasileiros chegaram a queimar milhões de sacas de grãos, na tentativa de elevar novamente o valor do produto.
Passada a crise, empresários da região Sudeste começaram a investir mais em processos modernos de industrialização, o que fez com que o café voltasse a ser um produto lucrativo no país. Hoje, a cafeicultura brasileira busca respeitar a biodiversidade e as recomendações de sustentabilidade, com regulamentações rígidas para preservar esse que ainda é o ganha pão de inúmeros trabalhadores agrícolas, já que produção nacional de café está estimada em mais de 50 milhões de sacas por ano.
Tipos de grãos e formas de preparo
Há dois tipos de grãos de café, mas os mais apreciados no mundo todo são os do tipo Arábica (Coffea arabica), proveniente das montanhas da Etiópia. Em geral, os cafés especiais e gourmet pertencem a esse tipo, já que possuem aroma e doçura intensos). Já os cafés do tipo Robusta ou Conilon (Coffea canephora) apresentam sabor mais amargo, já que contam com uma concentração maior de cafeína do que os do tipo Arábica. Esses grãos são muito utilizados nos cafés instantâneos.
Entre as inúmeras variedades do café Arábica, as mais comuns são Bourbon, Catuaí, Acaiá e Mundo Novo. Conhecendo as características de cada café, são desenvolvidas combinações (ou blends) para balancear ou acentuar as melhores qualidades dos diferentes grãos.